segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O vento

O vento sopra contra
As janelas fechadas

Na planície imensa
Na planície absorta,
Na planície que está morta

E os cabelos do ar ondulam loucos
Tão compridos que dão a volta ao mundo

Sento-me ao lado das coisas
E bordo toda a noite a minha vida

Aqueles dias tecidos
Que tinham um ar de fantasia
Quando vieram brincar dentro de mim

E o vento contra as janelas
Faz-me pensar que eu talvez seja um pássaro.

Sophia de Mello Breyner
in: "Obra Poética I", Caminho 1999

sábado, 28 de janeiro de 2012

Redes


Construir redes que cativam corações, transformam e realizam desejos, unem pessoas, criam histórias de amor, desfazem enredos e prolongam as vidas. É esse o desafio que nos é proposto.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O Hino ao Silêncio de Bento XVI



Silêncio e palavra [são] dois momentos da comunicação que se devem equilibrar, alternar e integrar entre si para se obter um diálogo autêntico e uma união profunda entre as pessoas.
Quando palavra e silêncio se excluem mutuamente, a comunicação deteriora-se, porque provoca um certo aturdimento ou, no caso contrário, cria um clima de indiferença; quando, porém se integram reciprocamente, a comunicação ganha valor e significado.
O silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras densas de conteúdo.
No silêncio, escutamo-nos e conhecemo-nos melhor a nós mesmos, nasce e aprofunda-se o pensamento, compreendemos com maior clareza o que queremos dizer ou aquilo que ouvimos do outro, discernimos como exprimir-nos.
Calando, permite-se à outra pessoa que fale e se exprima a si mesma, e permite-nos a nós não ficarmos presos, por falta da adequada confrontação, às nossas palavras e ideias.
Deste modo abre-se um espaço de escuta recíproca e torna-se possível uma relação humana mais plena....

O Deus da revelação bíblica fala também sem palavras: «Como mostra a cruz de Cristo, Deus fala também por meio do seu silêncio.
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Se Deus fala ao homem mesmo no silêncio, também o homem descobre no silêncio a possibilidade de falar com Deus e de Deus.
Quando falamos da grandeza de Deus, a nossa linguagem revela-se sempre inadequada e, deste modo, abre-se o espaço da contemplação silenciosa.
Na contemplação silenciosa, surge ainda mais forte aquela Palavra eterna pela qual o mundo foi feito, e identifica-se aquele desígnio de salvação que Deus realiza, por palavras e gestos, em toda a história da humanidade.
Imagem
Silêncio e palavra são ambos elementos essenciais e integrantes da ação comunicativa da Igreja para um renovado anúncio de Jesus Cristo no mundo contemporâneo.

Bento XVI Excertos da mensagem para a Jornada Mundial das Comunicações Sociais 2012 Imagens: Edward Hopper 

7º C 2012

5º C - 2012

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Caminho, Verdade e Vida


Tu, meu Caminho.
Esse Caminho que atravessa a treva,
o deserto desta vida faminta.
Que conduz ao lar que me preparas;
ao teu rosto, luz em tantos outros reflectida;
à tua casa, que é família que acolhe, sem distinção;
que é mesa que partilha, sem preferidos;
que é Igreja que cresce, sem distâncias.

Tu, minha Verdade.
Essa Verdade que floresce entre os muros quebrados,
desta vida em ruínas,
e destas verdades dispersas.
Brotas na mão amiga e assim constróis de novo;
falas na palavra de alento e assim colocas as minhas pedras caídas;
acolhes no abraço forte e assim fortaleces o meu alicerce, a minha raiz,
e assim cresce a tua obra, e assim crias o teu Reino.

Tu, minha Vida.
Essa Vida que se serve inteira, sem pedaços.
A que se contagia, porque atravessa os tempos.
A que descobre o Pai, porque transcende.
A vida que se entrega, porque a não limita a pele.
A que ressuscita, porque a não vence a morte.



Que os meus pés, Senhor, desgastem teu Caminho;
que entenda e anuncie, Pai, tua Verdade;
e que a minha Vida, tudo incluído, seja tua Vida.

Miguel Diez, in Silencios Guiados. Valladolid, 2008

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Se eu pudesse



Se eu pudesse deixar algum presente a você,
deixaria acesso ao sentimento de amar a vida dos seres humanos.
A consciência de aprender tudo o que foi ensinado pelo tempo afora...
Lembraria os erros que foram cometidos para que não mais se repetissem.
A capacidade de escolher novos rumos.
Deixaria para você, se pudesse, o respeito àquilo que é indispensável:
Além do pão, o trabalho.
Além do trabalho, a ação.
E, quando tudo mais faltasse, um segredo:
O de buscar no interior de si mesmo
a resposta e a força para encontrar a saída."

Mahatma Gandhi

Enviada por Anita a "Transmontana"

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Faça-o conhecer o mundo...



"Pegue um sorriso e doe-o a quem jamais o teve.

Pegue um raio de sol e faça-o voar lá onde reina a noite.
Descubra uma fonte e faça banhar-se quem vive no lodo.
Pegue uma lágrima e ponha-a no rosto de quem jamais chorou.
Pegue a coragem e ponha-a no ânimo de quem não sabe lutar.
Descubra a vida e narre-a a quem não sabe entendê-la.
Pegue a esperança e viva na sua luz.
Pegue a bondade e doe-a a quem não sabe doar.
Descubra o amor e faça-o conhecer ao mundo”
Gandhi

domingo, 15 de janeiro de 2012

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Partida


"Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, 
e traiçoeiro o mar...
(Só nos é concedida
Esta vida que temos;
E é nela que é preciso procurar
O velho paraíso que perdemos).
Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida, a revolta imensidão,
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar."
(A Viagem, Miguel Torga)

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Tornar Visível o Invísivel

"Das coisas mais extraordinárias no ser humano é a sua capacidade criativa.
Não há dúvida nenhuma de que se pode chamar a atenção para os diversos problemas que atravessam o mundo de hoje de uma forma pacífica e marcante.
Penso que ninguém ficará indiferente a este tipo de apelo.
Num mundo tão causticado pela violência, estas chamadas de atenção acabam por ter muito mais impacto do que o tão abusado recurso à contestação violenta.
Procuremos ser criativos na busca de um mundo mais justo e melhor!"

Rita Casqueiro

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Aurora boreal


Tenho quarenta janelas
nas paredes do meu quarto.
Sem vidros nem bambinelas
posso ver através delas
o mundo em que me reparto.
Por uma entra a luz do Sol,
por outra a luz do luar,
por outra a luz das estrelas
que andam no céu a rolar.
Por esta entra a Via Láctea
como um vapor de algodão,
por aquela a luz dos homens,
pela outra a escuridão.
Pela maior entra o espanto,
pela menor a certeza,
pela da frente a beleza
que inunda de canto a canto.
Pela quadrada entra a esperança
de quatro lados iguais,
quatro arestas, quatro vértices,
quatro pontos cardeais.
Pela redonda entra o sonho,
que as vigias são redondas,
e o sonho afaga e embala
à semelhança das ondas.
Por além entra a tristeza,
por aquela entra a saudade,
e o desejo, e a humildade,
e o silêncio, e a surpresa,
e o amor dos homens, e o tédio,
e o medo, e a melancolia,
e essa fome sem remédio
a que se chama poesia,
e a inocência, e a bondade,
e a dor própria, e a dor alheia,
e a paixão que se incendeia,
e a viuvez, e a piedade,
e o grande pássaro branco,
e o grande pássaro negro
que se olham obliquamente,
arrepiados de medo,
todos os risos e choros,
todas as fomes e sedes,
tudo alonga a sua sombra
nas minhas quatro paredes.

Oh janelas do meu quarto,
quem vos pudesse rasgar!
Com tanta janela aberta
falta-me a luz e o ar.


[ António Gedeão]

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Receita de Novo Ano


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Ainda

Ainda espero o amor
como no ringue o lutador caído
espera a sala vazia

primeiro vive-se e não se pensa em nada
não me digam a mim
com o tempo apenas se consegue
chegar aos degraus da frente:
é difícil
é cada vez mais difícil entrar em casa

não discuto o que fizeram de nós estes anos
a verdade é de outra importância
mas hoje anuncio que me despeço
à procura de um país de árvores

e ainda se me deixo ficar
um pouco além do razoável
não ouvem? O amor é um cordeiro
que grita abraçado à minha canção

José Tolentino Mendonça ]

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Um desejo


“Espírito da Terra capaz de romper através da vida obscura da inércia animal para oferecer uma face de Deus ao apelo universal da luz, a Esfinge é encarnação perfeita da ambiguidade radical da situação humana. E ao mesmo tempo a realização plástica mais concreta do acto original do homem: a poesia.”


Eduardo Lourenço ]