quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Partida


"Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, 
e traiçoeiro o mar...
(Só nos é concedida
Esta vida que temos;
E é nela que é preciso procurar
O velho paraíso que perdemos).
Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida, a revolta imensidão,
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar."
(A Viagem, Miguel Torga)

2 comentários:

Transmontana disse...

Boa tarde!

análise do poema "desfaz a mala feita para a partida"

O poema que se inicia com "Desfaz a mala feita..." é um poema ortónimo tardio de Fernando Pessoa, datado de 2/7/1931. Neste poema a "viagem" é um símbolo claro para uma outra coisa: a decisão de partir. E a decisão de partir é, em si mesma, um símbolo ainda para outra coisa: a coragem (ou a possibilidade) de mudar a vida. Parece-me que a grande temática deste poema pode ser a opressão do mundo, e sobretudo do destino, sobre o homem e a forma como não podemos fugir ao nosso destino.
Desfaz a mala feita para a partida!
Chegaste a ousar a mala? Que importa?
Desesperas ante a ida
Pois tudo a ti te iguala.
O pedido para desfazer a mala está, face a face, com a grande expressão definitiva "Que importa?" e que traduz uma inevitabilidade: quer o homem decida ou não mudar a sua vida, não o conseguirá fazer, pois não há nada melhor para o qual mudar. Mesmo que se tenha a mala feita, "a ida" será inconsequente. Pessoa explica o porquê: "Pois tudo a ti te iguala". Penso que ele quer dizer que há uma igualdade entre um outro estado e o estado presente. E todos somos semelhantes nisto. Pode haver o desejo de mudança, o desejo de alcançar a verdade ou a felicidade, mas estamos como que presos a um caminho que não podemos mudar.
Sempre serás o sonho de ti mesmo.
Vives tentando ser,
Papel rasgado de um intento, a esmo
Atirado ao descrer.
Claro que esta visão está marcada essencialmente pelas experiências (infelizes) de Fernando Pessoa, mas ele tenta extrapolá-las para toda a humanidade, de certa forma porque ele não consegue evitar compara a sua situação à situação dos outros. Aliás essa necessidade dos "outros" faz-se sentir em toda a obra de Pessoa, que, se embora iminentemente solitária, é sobretudo uma procura de familiaridade, de companhia, de semelhança, de identificação. Ele defende que nós temos então "um sonho de nós mesmos" que nunca se cumpre. Vivemos tentando ser uma coisa diferente daquela que sonhamos - e esse sonho, esse ideal, é um "papel rasgado de um intento", ou seja, nunca se cumpre, é apenas um desejo vazio.
Como as correias cingem
Tudo o que vais levar!
Mas é só a mala e não a ida [?]
Que há-de sempre ficar!
Fica no final a ideia de estarmos presos a um estado fixo, mesmo que preparemos uma mudança desejada. E mesmo que conseguíssemos mudar, não conseguiríamos mudar aquilo que somos - a mala fica, como que fixando indelevelmente um estado passado de um estado futuro, sem ligação possível entre os dois, sem ligação possível entre realidade (hoje) e sonho (amanhã). A mala simboliza tudo o que somos e tudo o que levamos connosco e a ida é o sonho, o desejo de sermos algo diferente. Mas - segundo Pessoa - não há possível conciliação entre a mala e a ida. Trata-se de uma quebra entre a imaginação e a crua realidade da vida.

Um dia feliz!

Anita

flor m disse...

Boa tarde.....

" A única e verdadeira satisfação que existe é crescer interiormente, sempre, tornar-se mais justo, verdadeiro,generoso,simples, mais homem, mais mulher, mais gentil e trabalhador. E isto todos podemos fazer trabalhando todos os dias o melhor que podemos"

James Freeman clarke 1810- 1888

Um dia feliz..bjs..