segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O vento

O vento sopra contra
As janelas fechadas

Na planície imensa
Na planície absorta,
Na planície que está morta

E os cabelos do ar ondulam loucos
Tão compridos que dão a volta ao mundo

Sento-me ao lado das coisas
E bordo toda a noite a minha vida

Aqueles dias tecidos
Que tinham um ar de fantasia
Quando vieram brincar dentro de mim

E o vento contra as janelas
Faz-me pensar que eu talvez seja um pássaro.

Sophia de Mello Breyner
in: "Obra Poética I", Caminho 1999

2 comentários:

Transmontana disse...

Boa tarde!

Agora ando a tentar conhecer Fernando Pessoa:

O que Me Dói não É O que me dói não é
O que há no coração
Mas essas coisas lindas
Que nunca existirão...

São as formas sem forma
Que passam sem que a dor
As possa conhecer
Ou as sonhar o amor.

São como se a tristeza
Fosse árvore e, uma a uma,
Caíssem suas folhas
Entre o vestígio e a bruma.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

Goze este lindo dia de sol!

Anita

Anónimo disse...

Bonito poema!

"Um dos méritos da poesia, que muita gente não percebe, é que ela diz mais que a prosa e em menos palavras…”

Voltaire

Uma boa noite