segunda-feira, 28 de maio de 2012

Cegueira de olhos capazes



Cegos que conseguem ver.
Milagre naquela época, miséria na nossa.

Todos com vista, todos atentos a tanto, mas não a tudo. Não a Ele.
Não consigo apreciar o simples, o humilhado parece-me desfocado.
Não acabo de focar o alheio, nem quase vislumbro o pequeno.
Então sou cego.
Cego de coração. Cego do essencial, tão invisível aos olhos...
Passam os dias, e achando ver, não vejo que nada sinto.

Mas o teu dedo roça-me apenas e já vejo.
Unta com esse lodo teu este barro que eu sou!
Que não desprezo esta vida, mas desejo outra vista!

Abertos os olhos, observo vidas alumiadas por tua Luz...
Creio, Senhor!


In Silencios Guiados - Valladolid, 2008.

1 comentário:

Transmontana disse...

"Os críticos podem dizer que determinado poema, longamente ritmado, não quer, afinal, dizer senão que o dia está bom. Mas dizer que o dia está bom é difícil, e o dia bom, ele mesmo, passa. Temos pois que conservar o dia bom em memória florida e prolixa, e assim constelar de novas flores ou de novos astros os campos ou os céus da exterioridade vazia e passageira."

FERNANDO PESSOA ( O livro do desassossego)