Certo Cristão, um dia, visitou
um bom Monge Budista e disse-lhe:
«Permita-me que eu lhe leia
algumas passagens do Evangelho,
o Sermão da Montanha, por exemplo».
«Ouvirei com prazer», respondeu o Monge.
E depois de ter lido várias linhas
o Cristão pára um pouco e o Monge diz,
sorrindo:«Quem disse tais palavras
era, de facto, um grande iluminado!».
Alegrou-se o Cristão e continuou...
Mais uma vez o Monge interrompeu:
«Quem tais palavras disse é, na verdade,
digno de ser chamado o Salvador
de toda a humanidade».
Empolgou-se o Cristão ainda mais
e levou a leitura até ao fim.
E outra vez o Budista comentou:
«Quem disse essas palavras deve ser
um homem que irradia Divindade!».
O Cristão transbordava de alegria
e voltou para casa decidido
a convencer o bom Budista
a tornar-se também um bom Cristão.
No caminho para casa, encontrou Jesus e disse-Lhe com esfuziante entusiasmo:«Mestre, eu consegui que aquele homem confessasse e admitisse a Vossa Divindade!».
Jesus sorriu e disse: «E qual foi a utilidade disso para ti,para além de inchar o teu ego cristão?».
O canto do pássaro, Anthony de Mello
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"Qualquer perturbação exterior - de irritação, zanga ou raiva - exprime uma perturbação interior que, no entanto, tendemos a não aceitar. Uma necessidade de criticar, emendar, contestar, sentir que somos «bons» e merecedores de respeito. Um desejo escondido de sermos considerados impecáveis e imprecindíveis. Tudo isso, mesmo que não pareça, está relacionado com o ego. Com a importância que damos às armas que temos. E, aprisionando-nos ao quotidiano, impede-nos o trabalhar profundo sobre nós próprios que nos permite o estado interior da impassibilidade indispensável para aderirmos a algo superior ao nosso ego. Só assim podemos não ser perturbados pelo que nos acontece." Tema - Auto-conhecimento Fonte: Xis (Público) / 20060610
Clássicos 15: “O Canto do Pássaro”, de Anthony de Mello
(Primeiro parágrafo): “Este livro foi escrito para pessoas de diferentes convicções, religiosas ou não. Entretanto, não posso esconder aos meus leitores o facto de que sou sacerdote católico. Peregrinei longamente por caminhos e tradições não cristãs e até mesmo não religiosas e devo dizer que elas exerceram grande influência sobre mim e muito me enriqueceram. A verdade, porém, é que volto sempre à minha Igreja, porque ela é o meu lar espiritual. Tenho, por vezes, uma percepção bastante nítida das limitações de algumas estreitezas ocasionais – o que me deixa um pouco embaraçado –, mas isto nunca irá destruir o sentimento de que foi ela que me formou, me moldou e fez de mim o que hoje sou. É a Ela, portanto, minha Mãe, minha Mestra, que, amorosamente, dedico este livro”.
Anthony de Mello (Bombaim, 04-09-1931 – Nova Iorque, 02-06-1987) escreveu este livro porque “toda a gente gosta de «estórias»”. “O leitor encontrará muitas neste livro: budistas umas, outras cristãs, algumas Zen, outras da tradição hindu, chinesa, russa, etc. Umas são modernas outras são antigas”, afirma na introdução da obra. A primeira história, que de certo modo é a chave para entender todas as outras, é esta:
Coma você mesmo o seu fruto
Queixava-se um discípulo ao seu Mestre: / “Que belas «estórias» o senhor nos conta; / Mas nunca nos revela o seu sentido”.
E respondeu o Mestre: / “Se alguém te desse um fruto, / já meio comido e mal saboroso, / tu gostavas?”
O sentido das coisas é um bem que ninguém dá; é uma descoberta pessoal!
O Canto do Pássaro | The song of the bird | Anthony de Mello | Ed. Paulinas, 1995, 200 páginas.
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