O jesuíta norte-americano Guy Consolmagno, doutorado em Astronomia, é curador da coleção de meteoritos do Observatório Astronómico do Vaticano, uma instituição muito prestigiada nesse meio de investigação científica.
Não gosta de ouvir falar em conflito entre ciência e religião. No seu estilo de explicar, de forma simples e até divertida, as questões complexas dos conceitos e das descobertas astronómicas, lembra aqueles que comprovaram que o conflito entre ciência e fé pode deixar de levantar problemas na prática.
Aduz os exemplos seguintes, provocando a reflexão, como aconteceu na entrevista que deu, em 2001, à revista “Appalchian Magazine”: «A ciência começou nas universidades. Quem fundou as universidades? A Igreja. Quem é o pai da Geologia? Alberto Magno, que era monge. Quem é o pai da Química? Roger Bacon, um monge. Quem desenvolveu a Genética? Gregor Mendel, um monge. Quem foi o primeiro a classificar as estrelas pelos seus espectros? Angelo Secchi, um padre jesuíta. Quem desenvolveu a teoria do Big Bang? Georges Lemaitre, um padre belga».
Consolmagno acaba de vencer a medalha Carl Sagan, atribuída pela Divisão de Ciências Planetárias da Sociedade Astronómica Americana.
É um prémio criado em 1998, dos mais prestigiados para cientistas daquele ramo, e destina-se a premiar a pessoa que mais se destacou para a compreensão pública das ciências planetárias.
O astrónomo premiado nasceu nos Estados Unidos e, em 1991, professou como irmão jesuíta, mas nunca foi ordenado sacerdote.
Quando chegou a Roma, doutorado em Astronomia, foi chamado para trabalhar no Observatório Astronómico do Vaticano, em Castelgandolfo.
Não recusaria batizar um extraterrestre que lhe pedisse o batismo, como defende no livro “Batizarias um extraterrestre?”, que publicou em parceria com o padre jesuíta Paul Mueller.
A questão não é tão disparatada como alguns podem pensar, afastando-a sem verificar sequer se tem ou não alguma lógica.
Também o Papa Francisco já falou dessa hipótese, numa homilia do passado mês de maio, quando perguntou: «Se amanhã viesse uma expedição de marcianos, por exemplo, e algum deles nos visitasse, com o nariz e as orelhas grandes como os pintam as crianças, e nos dissesse “Quero ser batizado”, que aconteceria?».
O Papa Francisco estava a desenvolver o tema que toda a gente tem “direito” a receber o Espírito Santo, inclusive aqueles que, como grandes alienígenas verdes, no caso de existirem, são certamente bem diferentes de nós.
Não estou a defender a existência dos extraterrestres, mas, na linha do Papa, não gosto que alguém privatize o Espírito de Deus, na veleidade de lhe ter o exclusivo. Ele continua a soprar a quem quer, como quer e quando quer.
Ainda bem que deu tanto talento ao irmão jesuíta Guy Consolmagno.
Cón. Rui Osório
In "Voz Portucalense"
Publicado em 19.11.2014
In "Voz Portucalense"
Publicado em 19.11.2014
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