quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Não o procures...


Não o procures perto do mar,
não o procures
nas colinas.
Se o não descobres nos fenos,
se o não pressentes nas fontes,
procura-o nesta canção.
O seu canto vem doutro rio,
a fêmea doutro lugar.
Só quem ama assim as aves
traz o sol todo na mão.
O pão alvo está na mesa,
as azeitonas, o vinho,
ao lado a rosa, também ela
trazida doutra canção.
Não tardará que o melro branco
venha comer contigo
e com a luz fina de Abril.

Assim há-de cantar um dia
a terra
o seu coração pueril.

Eugénio de Andrade

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