Como devem jejuar os discípulos de Cristo
«Há realmente um jejum não corporal e uma temperança não
material: a abstinência do mal pela alma convertida. Foi justamente em vista
desta que nos foi prescrita a abstinência de alimentos. Por isso jejuai do mal;
sede fortes contra os desejos incompatíveis; repeli o ganho ilícito; matai de
fome a avareza dos dinheiro; nada haja em tua casa fruto de violência ou de
roubo. Que te adianta se não dás carne ao corpo, mas mordes o irmão pela
maledicência? Ou que vantagem se não comes do que é teu, e tomas injustamente
aquilo que é do pobre? Que piedade é esta que só bebe água, mas trama enganos e
tem sede de sangue pela perversidade?
...O temor de Deus ensine a língua a proferir aquilo que convém, a
não dizer coisas vãs, a conhecer o tempo favorável e não só a medida, mas a
palavra necessária e a resposta sensata. Não falar às tontas, não caiam as
palavras como granizos violentos sobre os passantes. Pois para isto bem se
chama freio aquela débil membrana que liga a mandíbula à língua para não falar
sem ordem nem oportunidade. Bendiz, não amaldiçoes. Salmodia, não blasfemes.
Felicita, não critiques. Que as mãos precipitadas sejam retidas, como que com
cadeias, pela lembrança de Deus. Jejuamos também porque nosso Cordeiro foi
vilipendiado com insultos o bofetadas, antes dos cravos. Assim devemos jejuar,
nós, os discípulos de Cristo».
S. Gregório de Nissa (c. 335-395)
Seleção e tradução: Fr. Isidro Lamelas, OFM, professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa
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