domingo, 6 de janeiro de 2013

A estrela




Eu caminhei na noite
E entre o silêncio e frio
Só uma estrela secreta me guiava.
Grandes perigos na noite me apareceram:
Da minha estrela julguei que eu a julgara
Verdadeira sendo ela só reflexo
Duma cidade a néon enfeitada.
A minha solidão me pareceu coroa.
Sinal de perfeição em minha fronte.
Mas vi quando no vento me humilhava
Que a coroa que eu levava era dum ferro
Tão pesado, que toda me dobrava.
Do frio das montanhas eu pensei:
“Minha pureza me cerca e me rodeia”.
Porém meu pensamento apodreceu
E a pureza as coisas cintilava
E eu vi que a limpidez não era eu.
E a fraqueza da carne e a miragem do espírito
Em monstruosa voz se transformaram:
Pedi ás pedras do monte que falassem
Mas elas como pedras se calaram.
Sozinha me vi, delirante e perdida.
E eu caminhei na noite; minha sombra
De gestos desmedidos me cercava
Silêncio e medo
Nos confins dos desertos caminhavam:
Então vi chegar ao meu encontro
Aqueles que uma estrela iluminava
E assim me disseram: “Vem connosco
Se também vens seguindo aquela estrela”.
Então soube que a estrela me seguia.
Era real e não imaginada.
Grandes e humanas miragens nos mostraram
Em direcções distantes nos chamaram
E a sombra dos três homens sobre a terra
Ao lado dos meus passos caminhava.
E eu espantada vi que aquela estrela
Para cidade dos homens nos guiava.
E a estrela do céu parou em cima
duma rua sem cor e sem beleza
Onde a luz tinha o mesmo tom que a cinza
Longe do verde-azul da Natureza.
Ali não vi as coisas que eu amava
Nem o brilho do sol nem o da água.
Ao lado do hospital e da prisão
Entre o agiota e o templo profanado
Onde a rua é mais negra e mais sem luz
E onde tudo parece abandonado
Um lugar pela estrela foi marcado.
Nesse lugar pensei: Quando deserto
Atravessei para encontrar aquilo
Que morava entre os homens tão perto.

                                                                                                   Sophia de Mello Breyner Andresen

1 comentário:

Transmontana disse...

As Estrelas
por Olavo Bilac
Poema publicado em Poesias Infantis


Quando a noite cai, fica à janela,
E contempla o infinito firmamento!
Vê que planície fulgurante e bela!
Vê que deslumbramento!
Olha a primeira estrela que aparece
Além, naquele ponto do horizonte ...
Brilha, trémula e vívida... Parece
Um farol sobre o píncaro do monte.
Com o crescer da treva,
Quantas estrelas vão aparecendo!
De momento em momento, uma se eleva,
E outras em torno dela vão nascendo.
Quantas agora! ... Vê! Noite fechada ...
Quem poderá contar tantas estrelas?
Toda a abóbada está iluminada:
E o olhar se perde, e cansa-se de vê-las
Surgem novas estrelas imprevistas
Inda outras mais despontam ...
Mas, acima das últimas avistas,
Há milhões e milhões que não se contam ...
Baixa a fronte e medita:
— Como, sendo tão grande na vaidade,
Diante desta abóbada infinita
É pequenina e fraca a humanidade