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domingo, 30 de novembro de 2014

Vigiai


"Advento é um tempo de caminhantes: tudo se faz mais próximo, Deus de nós, nós dos outros, eu de mim próprio. Um tempo em que se abreviam distâncias, entre céu e terra, entre homem e homem, e se começam caminhos. 
 Viver com atenção. Mas a quê? Atentos às pessoas, às suas palavras, aos seus silêncios, às perguntas mudas, a cada oferta de ternura, à beleza de ser vida grávida de Deus.
Atentos ao mundo, nosso planeta bárbaro e magnífico, às suas criaturas mais pequenas e indispensáveis: a água, o ar, as plantas. Atentos ao que acontece no coração e no pequeno espaço em que me movo." Ermes Ronchi  In "Avvenire" 


quinta-feira, 20 de novembro de 2014

O Espírito de Deus sopra onde quer

O jesuíta norte-americano Guy Consolmagno, doutorado em Astronomia, é curador da coleção de meteoritos do Observatório Astronómico do Vaticano, uma instituição muito prestigiada nesse meio de investigação científica.
Não gosta de ouvir falar em conflito entre ciência e religião. No seu estilo de explicar, de forma simples e até divertida, as questões complexas dos conceitos e das descobertas astronómicas, lembra aqueles que comprovaram que o conflito entre ciência e fé pode deixar de levantar problemas na prática.
Aduz os exemplos seguintes, provocando a reflexão, como aconteceu na entrevista que deu, em 2001, à revista “Appalchian Magazine”: «A ciência começou nas universidades. Quem fundou as universidades? A Igreja. Quem é o pai da Geologia? Alberto Magno, que era monge. Quem é o pai da Química? Roger Bacon, um monge. Quem desenvolveu a Genética? Gregor Mendel, um monge. Quem foi o primeiro a classificar as estrelas pelos seus espectros? Angelo Secchi, um padre jesuíta. Quem desenvolveu a teoria do Big Bang? Georges Lemaitre, um padre belga».
Consolmagno acaba de vencer a medalha Carl Sagan, atribuída pela Divisão de Ciências Planetárias da Sociedade Astronómica Americana.
É um prémio criado em 1998, dos mais prestigiados para cientistas daquele ramo, e destina-se a premiar a pessoa que mais se destacou para a compreensão pública das ciências planetárias.
O astrónomo premiado nasceu nos Estados Unidos e, em 1991, professou como irmão jesuíta, mas nunca foi ordenado sacerdote.
Quando chegou a Roma, doutorado em Astronomia, foi chamado para trabalhar no Observatório Astronómico do Vaticano, em Castelgandolfo.
Não recusaria batizar um extraterrestre que lhe pedisse o batismo, como defende no livro “Batizarias um extraterrestre?”, que publicou em parceria com o padre jesuíta Paul Mueller.
A questão não é tão disparatada como alguns podem pensar, afastando-a sem verificar sequer se tem ou não alguma lógica.
Também o Papa Francisco já falou dessa hipótese, numa homilia do passado mês de maio, quando perguntou: «Se amanhã viesse uma expedição de marcianos, por exemplo, e algum deles nos visitasse, com o nariz e as orelhas grandes como os pintam as crianças, e nos dissesse “Quero ser batizado”, que aconteceria?».
O Papa Francisco estava a desenvolver o tema que toda a gente tem “direito” a receber o Espírito Santo, inclusive aqueles que, como grandes alienígenas verdes, no caso de existirem, são certamente bem diferentes de nós.
Não estou a defender a existência dos extraterrestres, mas, na linha do Papa, não gosto que alguém privatize o Espírito de Deus, na veleidade de lhe ter o exclusivo. Ele continua a soprar a quem quer, como quer e quando quer.
Ainda bem que deu tanto talento ao irmão jesuíta Guy Consolmagno.
 
Cón. Rui Osório
In "Voz Portucalense"
Publicado em 19.11.2014

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Significado do sinal da cruz

Aprendemos este gesto desde crianças, mas conhecemos realmente o seu verdadeiro significado?
Nas normas expostas no Missal Romano, quando se explica o comportamento indicado para o momento da proclamação do Evangelho, estabelece-se que o diácono ou o sacerdote que anuncia a Palavra, depois de ter feito o sinal da cruz sobre a página do Evangeliário, deve fazê-lo também sobre a testa, sobre os lábios e sobre o coração.
O sinal da cruz triplo também é feito pela assembleia. E tudo isto não pode ser considerado como um mero ritual, mas um forte convite que a Igreja faz, sublinhando a grande importância dada ao Evangelho.
A Palavra de Deus, que é sempre a luz que ilumina o caminho dos fiéis, precisa de ser acolhida na mente, anunciada com a voz e conservada no coração. Tudo isto nos recorda que é necessário empenharmo-nos em compreender a Palavra de Deus com atenção e inteligência iluminada.
Esta Palavra deve ser anunciada e proclamada por todo o cristão, porque a evangelização é um dever de todos os batizados. Precisa de ser amada e guardada no coração, para se tornar depois norma de vida.
Todos nós somos convidados a examinarmo-nos sobre como acolhemos o Evangelho, como nos comprometemos no anúncio desta mensagem, como conformamos nossa vida segundo suas indicações.
Somos convidados a ser um “Evangelho ilustrado”, o “quinto Evangelho”, não escrito com tinta, mas com a nossa própria vida.
Acolhamos com a mente, anunciemos com os lábios, conservemos no coração o tesouro da Palavra de Deus e, ao longo deste caminho, confiemos as nossas vidas ao Senhor, para sermos reflexo da verdadeira luz no meio às trevas do mundo de hoje.

Artigo do Pe. Antonio, monge no Mosteiro de São Bento, de Monte Subiaco, Itália 
via Aleteia

sábado, 15 de novembro de 2014

Semana dos Seminários

A liturgia do 33.º Domingo do Tempo Comum recorda a cada cristão a grave responsabilidade de ser, no tempo histórico em que vivemos, testemunha consciente, activa e comprometida desse projecto de salvação/libertação que Deus Pai tem para os homens.
                         

O espanto de Alice Vieira

«Espanta-me muito que se leia tão pouco a Bíblia», diz escritora Alice Vieira


A escritora Alice Vieira revelou hoje que se sentiu surpreendida pela falta de cultura bíblica, nomeadamente entre as crianças, para quem escreveu o livro “Histórias da Bíblia para ler e pensar”.
«Espanta-me muito que se leia tão pouco a Bíblia», afirmou Alice Vieira durante a
5.ª Jornada de Teologia Prática, centrada no tema “As intrigantes linguagens da fé”, que decorre na Universidade Católica, em Lisboa.
A autora qualificou de «assustadora» a ausência de cultura bíblica entre as crianças: «Estamos numa laicização tremenda».
Alice Vieira começou a sua intervenção recordando que as famílias por onde passou eram «profundamente anticlericais», sendo comum ouvir dizer: «Se eu vir um padre, é como ver um gato preto».
O primeiro contacto de Alice Vieira com a Bíblia foi na escola secundária, através de uma professora de Religião e Moral, que nas aulas lia textos da Sagrada Escritura: «Abriu-me horizontes extraordinários».
Aos 18 anos entrou para a faculdade e para o jornal “Diário de Lisboa”, onde conheceu um «católico fervoroso, e não menos fervoroso comunista», que viria a ser o marido, o jornalista e escritor Mário Castrim.
O primeiro presente que recebeu dele foi uma Bíblia «destinada a ser lida como literatura»: «Tudo o que precisares, abre o livro ao calhas e encontras a resposta». Desde então, as leituras bíblicas foram «sempre algo normal» em sua casa.
Com o passar dos anos, Alice Vieira percebeu que o texto bíblico está «muito presente nas histórias da tradição popular» portuguesa, com personagens ligadas ao Antigo e Novo Testamento, bem como à vida dos santos, tudo pontuado pela «intervenção divina, que é uma constante».
Antes de escolher as histórias da Bíblia para o seu livro, consultou a neta, que lhe fez um único pedido: incluir a narrativa de Rute, a que acrescentou as histórias de Ester, David e Golias, e Salomão, entre outros personagens.
Colecionadora de Bíblias, Alice Vieira supunha que as suas histórias iriam encontrar leitores minimamente enquadrados com as narrativas: «Na minha ingenuidade, pensava que já conheciam as histórias, mas não».
«Para chegar às crianças temos de pensar muito bem na linguagem. Não é utilizar linguagem pobrezinha, pensando que não percebem as palavras difíceis», explicou.
Por outro lado, «tem de ser uma palavra que chegue ao coração, ritmada, com cadência», como se encontram nas histórias tradicionais», sublinhou a escritora, que realçou também a «grande incidência nos pormenores» que dá às suas histórias.
«Gostaria muito que as crianças tivessem quem lhes lesse as histórias», assinalou Alice Vieira, porque a Bíblia é um alicerce para a infância e a vida adulta: «Faz muita falta para entender o mundo, para nos entendermos a nós».
Nas 80 escolas que, em média, percorre anualmente, dificilmente encontra o seu livro nas bibliotecas de escolas não católicas, porque os responsáveis temem a oposição dos pais.

Rui Jorge Martins 
Publicado em 14.11.2014

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Dar a vida a um outro....

O amor é algo extraordinário e muito raro. Ao contrário do que se pensa não é universal, não está ao alcance de todos, muito poucos o mantêm aqui. 

Chama-se amor a muita coisa, desde todos os seus fingimentos até ao seu contrário: o egoísmo. 

A banalidade do gosto de ti porque gostas de mim é uma aberração intelectual e um sentimento mesquinho. Negócio estranho de contabilidade organizada. Amar na verdade, amar, é algo que poucos aguentam, prefere-se mudar o conceito de amor a trocar as voltas à vida quando esta parece tão confortável. 

Amar é dar a vida a um outro. A sua. A única. Arriscar tudo. Tudo. A magnífica beleza do amor reside na total ausência de planos de contingência. Quando se ama, entrega-se a vida toda, ali, desprotegido, correndo o tremendo risco de ficar completamente só, assumindo-o com coragem e dando um passo adiante. Por isso a morte pode tão pouco diante do amor. Quase nada. Ama-se por cima da morte, porquanto o fim não é o momento em que as coisas se separam, mas o ponto em que acabam. 

Não é por respirar que estamos vivos, mas é por não amar que estamos mortos. 

De pouco vale viver uma vida inteira se não sentirmos que o mais valioso que temos, o que somos, não é para nós, serve precisamente para oferecermos. Sim, sem porquê nem para quê. Sim, de mãos abertas. Sim... porque, ainda além de tudo o que aqui existe, há um mundo onde vivem para sempre todos os que ousaram amar... 

José Luís Nunes Martins, in 'Filosofias - 79 Reflexões'