"Em pequena, Miss Whittemore levava flores aos empregados. Dizia que eram do pai ou de um outro empregado. Isso melhorava a relação entre as pessoas, mesmo quando descobriam que era tudo iniciativa da criança rica e mimada. […] Miss Whittemore sentia, em criança, que aquelas florzinhas do campo eram capazes de atar as pessoas umas às outras, como as letras compõem as palavras, e imaginou fazer isso pelo mundo todo. Depois foi percebendo que o mundo não acabava nos muros da feitoria, como sempre achara. Então, entrou numa Igreja e deixou uma flor no altar: Deus que a distribuísse pelos homens.
Um dia, contou essa história ao professor Borja:
- Em pequena, deixava flores às criadas do meu pai com o nome de outra criada. E a criada que recebia a flor ficava encantada e dava uma flor de volta. Punha toda a gente a dar flores a toda a gente. Era assim que acreditava em Deus.
- Deus não estava envolvido. Não precisamos dele para nada.
- Pelo contrário, foi assim que passei a acreditar. Deus era o gesto de dar aquelas flores. Era criança, mas percebi isso claramente. Era o gesto, professor, o gesto, e não o objecto. O gesto humano e não o sujeito castigador, enorme, barbudo e omnipotente.”
(Afonso Cruz, Jesus Cristo bebia cerveja).
- Em pequena, deixava flores às criadas do meu pai com o nome de outra criada. E a criada que recebia a flor ficava encantada e dava uma flor de volta. Punha toda a gente a dar flores a toda a gente. Era assim que acreditava em Deus.
- Deus não estava envolvido. Não precisamos dele para nada.
- Pelo contrário, foi assim que passei a acreditar. Deus era o gesto de dar aquelas flores. Era criança, mas percebi isso claramente. Era o gesto, professor, o gesto, e não o objecto. O gesto humano e não o sujeito castigador, enorme, barbudo e omnipotente.”
(Afonso Cruz, Jesus Cristo bebia cerveja).
Sem comentários:
Enviar um comentário