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quarta-feira, 22 de abril de 2009

Facilidade do Ar


Uma voz na pedra Não sei se respondo ou se pergunto.Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.De súbito, ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.A minha tristeza é a da sede e a da chama.Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.O que eu amo não sei. Amo. Amo em total abandono.Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.
António Ramos Rosa, Facilidade do Ar, 1990

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